domingo, 15 de janeiro de 2012

AFINAL, O QUE TÊM A DIZER OS NOVOS POETAS DE TAUBATÉ?


De repente, sem que ninguém  desse conta, eles começaram a surgir de todos os lados. Foram se aproximando como quem não quer nada e se apresentando como “poetas”, esta espécie julgada extinta de que já ninguém mais se lembrava. Foram entrando, mostrando a cara, entrando sem pedir licença, como o sujeito que entra quietinho, senta no último banco da última fileira e, quando menos se espera, acaba tomando conta do pedaço.  Inconvenientes. Enxeridos. Ninguém os chamou, e eles vieram.
Estranhamos: de onde é esta fauna tão diversificada saiu?
De qual buraco, por que caminhos, onde é que estavam até agora?
O que querem?
Com seus poemas inofensivos e batidos, foram se infiltrando e tomando espaço. A impressão que se tem é que eles estão por toda parte. Nos teatros. Nos prédios das associações de classe. Nos palcos. Na TV. Nas esquinas. Nas praças. No rádio. No Senado Federal.  Aliás, alguém sabe dizer qual foi a última vez que a palavra “Taubaté” foi proferida no Senado federal? Foi pra falar deles.
E eles continuam. Entregam livros. Recebem certificados. Enchem as redes sociais de sandices, erros gramaticais, gritos por justiça aos poemas lá deles. Reclamam que não havia ninguém para cuidar do lobo-guará, discutem, saem na porrada. Publicam livros. Apontam o dedo. Alguns deles nem sabem exatamente o que querem dizer.
Fazem saraus em praça pública, organizam concursos, lotam auditórios pequenos ou grandes, trocam poemas, fotografam como malucos. Formam e extinguem grupos como quem troca de roupa. E, não satisfeitos com a abrangência local, passaram a chamar outros loucos das adjacências para corroborar as insanidades: Pinda. São José. Campos. Aparecida. Monteiro Lobato. Jacareí.
Varam as madrugadas. Achincalham políticos (uns palhaços incorrigíveis, todos eles). Trocam impressões entre si, anotam nomes de autores e livros, procuram na internet, vivem com papel e caneta à mão, brigam com os pais, sonham com outras paisagens, botam o dedo na ferida dos outros sem que os outros autorizem. Alguns não têm nem emprego, e não podem ver um microfone disponível. Bebem muita cerveja e outras porcarias. Fumam cigarros e outras porcarias. São pederastas. Cínicos. Sujos. Chegam a questionar a Deus. Alguns são ateus e ainda confessam! Defendem o homossexualismo, o fim dos preconceitos e a liberdade de pensamento. Por isso se escondem quando passa o carro da polícia. Falam palavrão e olham fixamente a bunda de nossas filhas na rua, sem que a gente perceba. Aliás, são loucos para engravidar a filha da gente. Dizem que trazem em si a “semente da poesia”, hippies atrasados que perderam o bonde da História, mas não o da esperança.
Por isso são pálidos, orgulhosos, arrogantes, metidos a intelectuais da Dutra. Só pensam neles. Não ligam para a fome na África, para a crise do euro nem para Academias de Letras. Aliás, detestam Academias e seus odores de naftalina. Passam a maior parte do tempo a criar e organizar verdadeiros bacanais da palavra a céu aberto. O resto do tempo, não fazem nada. Não produzem para a economia do município, não geram receita, não contribuem para estatísticas, não recolhem impostos e não consomem como as pessoas normais. Dizem que só a cultura e a reforma da educação salvarão o País.
Cuidado, ao cruzar com eles. São perigosos, é só ver o brilho que trazem nos olhos, quase em chamas. São excluídos, trazem livros nas mochilas e nunca têm dinheiro para nada. E teimam em carregar nas costas o peso imenso de cruzes imaginárias. E insistem em proferir ao vento seus versos que ninguém entende. E insistem em semear esperança na dura (ir) realidade do asfalto.     

                                                       Benilson Toniolo

Poeta, contista, cronista e tradutor de Campos do Jordão (SP), autor dos livros Poemas Jordanenses, Sandálias Paternas e Mar de Amares. Veicula os blogues http://novapoesiabrasileira.blogspot.com e http://artigoescola.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Retrato fidedigno do nosso pífio movimento. Estou incluso no que é pior do excelente texto. Parabéns , amigo e Santista Benilson Toniolo. ( Fla 5 X 4 Santos) Virada história, tenho o DVD, vc quer uma cópia ? rsrsrsr

    ResponderExcluir